As instituições muitas vezes se beneficiam da efemeridade das mídias, do esquecimento e do silêncio para manter uma imagem positiva. É necessário se contrapor a esse ciclo de esquecimento e silêncio. É necessário fazer emergir uma consciência responsável!
Diante disso, o que pode ser mais urgente do que dialogar sobre a vida interrompida de Pedro Henrique de Oliveira dos Santos, um jovem de apenas 14 anos? Não há nada mais importante do que discutir a morte brutal deste jovem, cuja vida foi retirada.
A sociedade, outros jovens, suas famílias e a própria instituição onde ele estudava tiveram sua parcela de responsabilidade na tragédia que tirou a vida de Pedro. Sua história remete a casos como o de George Floyd, que, após repetir mais de 20 vezes que não conseguia respirar, foi assassinado fisicamente. Pedro, de forma semelhante, clamou por ajuda, sentindo-se sufocado, e no dia 12 de agosto de 2024, tirou sua própria vida, sendo assassinado psicologicamente. Que a solidariedade alcance e amenize a dor dessa mãe e dos familiares, que viram a ordem natural da vida ser tragicamente alterada.
Pedro era negro, periférico, bolsista e gay. Ele foi alvo de violências psicológicas e criminosas, como o racismo, elitismo, bullying e homofobia, que o levaram ao suicídio – uma medida desesperada de escapar desse sofrimento insuportável. Como poderia Pedro, pertencente a tantos grupos minorizados e excluído do convívio entre os demais alunos, sentir-se parte daquele ambiente? Que ações de cuidado e integração foram tomadas para mitigar esses abismos sociais? Essas relações eram devidamente acompanhadas? Mesmo que a família soubesse do seu sofrimento mental, até que ponto as famílias negras ou bolsistas têm voz nesses espaços elitizados, brancos e heteronormativos? Será que temiam se posicionar e exigir seus direitos, com medo de perder a bolsa? Qual é a intencionalidade dessas instituições? Será que elas querem apenas corpos negros para exibir uma imagem de “diversidade”? Essa aparente reparação beneficia a quem? Até que ponto as escolas, especialmente as privadas e elitizadas, realmente se preocupam em assegurar os direitos mais fundamentais, como o da dignidade humana? O quanto se dedicam a cuidar das relações entre os estudantes? Programas de acesso para crianças negras e periféricas são frequentemente vistos como atos de bondade, mas quanta segurança psicológica esses espaços realmente oferecem? Venho falando disso há anos! Somos, muitas vezes, estranhos no ninho, e os olhares cotidianos já nos retiram um pouco de vida todos os dias. Imaginem os pequenos e imaturos olhos de crianças, desde cedo recebendo olhares que lhes dizem que são diferentes, menores, que estão fora do padrão – especialmente em ambientes padronizados, onde são rapidamente identificados.
Essa “integração” entre negros e brancos, pobres e ricos, muitas vezes cria camadas de tensão. Não se trata de “dar uma bolsa”; o entendimento está errado desde o princípio. É um direito, uma obrigação e uma forma de reparação! Quando uma escola proporciona esse acesso, ela é quem mais ganha! A diversidade enriquece o ambiente, gerando mais criatividade e ampliando a visão de mundo de grupos homogêneos, beneficiando a todos. Mas, e as crianças que são vistas como “fora do padrão”? Como alguém pode aprender ou viver se sentindo inseguro psicologicamente? Como se equilibrar diante de relações tão tóxicas e adoecedoras?
Enquanto você lê este artigo, pode sentir que está fazendo algo a respeito, mas isso não é o suficiente! A mudança exige ação e consciência, não no sentido moralista, mas sim na percepção de que nossos atos devem ser responsáveis. Vivemos em rede, e a sua inação é uma ação muito eficaz e poderosa. É preciso entender que é na relação cotidiana que construímos o mundo, e que existe uma escolha consciente no que consideramos importante. O que tem sido importante para você? É necessário trazer essa reflexão à tona e educar nossas crianças e jovens para um convívio saudável e respeitoso de todos os seres vivos. Gestores e profissionais de educação e responsáveis por crianças e jovens, devem ter essa consciência e responsabilidade aumentada, educando para relações cuidadosas, corrigindo, ensinando e aprendendo. Mas, para tudo isso, é essencial se importar, se afetar e fazer emergir essa consciência responsável!
As instituições escolares falham! Falam de resultados diferenciados, mas há séculos trilham o mesmo caminho, esperando chegar a destinos diferentes. E eu pergunto: como? Como alcançar resultados diferentes fazendo sempre o mesmo? Como você pode criar e educar sua criança de forma conscientemente responsável? Não se trata apenas do âmbito individual, mas do que produzimos para nossa vida em rede. O que me afeta pode afetar o outro, positiva ou negativamente. Vamos criar formas de gerar impactos positivos que ultrapassem nosso próprio umbigo. Termino como comecei: vamos interromper o racismo, o bullying, elitismo e a homofobia, transformando o silêncio e o esquecimento em ações reais e intencionais. Não podemos permitir que novos casos como o de Pedro ocorram. Sua história não começou com sua morte, mas com situações graves e recorrentes que o conduziram a recorrer a essa trágica ação.